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Saúde cardiovascular e ingredientes alimentícios


Nos tempos antigos, os egípcios representavam o coração como o lugar onde os sentimentos eram gerados. Muito além da conceituação sentimental sobre esse órgão, o coração é um músculo do tamanho do punho da mão que mantém o organismo em funcionamento, cujo papel que desempenha é bombear sangue para todo o organismo, através dos vasos sanguíneos. Contudo, se algum desses vasos estiver obstruído, impedindo a chegada de sangue suficiente, os músculos do coração degeneram e ocorrem distúrbios cardiovasculares.

As doenças cardiovasculares (DCV) englobam o coração, o sistema vascular cerebral e os vasos sanguíneos, sendo a principal causa de morte no mundo, afetando não apenas os países industrializados, mas sobretudo os de baixa e média renda, onde superam as doenças infecciosas como a primeira causa de morte.

Historicamente, o papel de nutrientes específicos tem sido o foco principal na prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares.

Cada vez mais acessíveis, um crescente número de ingredientes para saúde cardiovascular está sendo utilizado em alimentos, bebidas e suplementos alimentares, desde os mais tradicionais até os de emprego mais recente. Entre eles, estão os ácidos graxos ômega 3, 6 e 9 , os fitoesteróis, as fibras, os compostos bioativos e os peptídeos, entre outros.

Os ácidos graxos ômega 3 são essenciais para o funcionamento do coração, podendo-se destacar entre os benefícios do seu consumo a diminuição das taxas de triglicérides e colesterol total no sangue; a redução da pressão arterial de indivíduos com hipertensão leve; e a alteração da estrutura da membrana das células sanguíneas, tornando o sangue mais fluido. Suas principais fontes alimentícias são os óleos de peixes marinhos, como sardinha, salmão, atum, arenque, anchova, entre outros peixes que vivem em águas profundas e frias e, também, em algas marinhas e nos óleos e sementes de alguns vegetais, como a linhaça, por exemplo. Atualmente, podem ser obtidos através de suplementos ou de produtos alimentícios enriquecidos com ômega 3, como ovos, óleos, produtos de panificação, leite, fórmulas infantis, maioneses, margarinas e molhos, produtos cárneos e aves.

Já os ácidos graxos ômega 6 são fundamentalmente encontrados em azeites e óleos de sementes, bem como em cereais. Os mais proeminentes são o ácido linoleico e o ácido araquidônico.

A participação dos ácidos graxos ômega 6, em perfeito equilíbrio com os ômega 3, é de fundamental relevância para a prevenção de doenças cardiovasculares, uma vez que o ômega 6 ajuda na diminuição dos níveis de colesterol total e LDL. Os ômega 6 poliinsaturados, como o linoleico, tendem a reduzir ambos os tipos de colesterol (LDL e HDL - High Density Lipoproteins, ou Lipoproteínas de Alta Densidade) no sangue e estão presentes nos óleos de milho, soja e girassol. Os monoinsaturados, presentes fundamentalmente no azeite de oliva, tendem a diminuir os níveis de colesterol LDL, sem afetar o colesterol HDL.

A família ômega 9 consiste em um ácido graxo monoinsaturado, relacionado a níveis de triglicerídeos mais saudáveis, além de ajudar na diminuição dos níveis de colesterol total sanguíneo LDL e, ainda, aumentar o HDL.

Uma dieta rica nesse tipo de ácido graxo tem efeito protetor contra doenças cardiovasculares, pois produz um aumento das lipoproteínas de alta densidade e diminui as de baixa densidade. O efeito também é mostrado, como consequência, no colesterol total, que diminui nas dietas com alimentos ricos em ácidos graxos ômega 9.

Também chamados de esteróis vegetais, os fitoesteróis são esteróis compostos por 27 a 29 átomos de carbono e estruturalmente semelhantes ao colesterol, diferenciando-se deste pelas configurações no núcleo ou na cadeia lateral, ou ainda, pelos seus grupos polares.

A utilização de compostos fitoesteróis com fins terapêuticos para prevenção de doenças cardiovasculares é conhecida desde a década de 50. A pesquisa científica e o interesse comercial contribuíram para a disseminação do emprego dos fitoesteróis como agentes redutores dos níveis de colesterol e fizeram destes compostos produtos de interesse para a prevenção de doenças cardiovasculares. Estudos pré-clínicos e clínicos comprovaram a sua eficácia e segurança na redução dos níveis de colesterol LDL, principal fator de risco para doenças cardiovasculares. O uso de fitoesteróis com propósitos terapêuticos tem sido realizado através da ingestão de alimentos funcionais, produtos industrializados aos quais são incorporados ou através da ingestão de formas farmacêuticas. São também utilizados em combinação com outros produtos e ingredientesbenéficos, incluindo peixes e azeites, psyllium e betaglucanas para aumentar o seu efeito sobre os fatores de risco das doenças cardiovasculares.

A principal ação das fibras com relação à saúde cardiovascular é reduzir a absorção do colesterol durante o processo de digestão e, assim, diminuir sua concentração no sangue, o que contribui para a redução do risco de doenças cardiovasculares, uma vez que elevadas concentrações de colesterol plasmático é um fator de risco importante neste caso. Estudos associam o maior consumo de fibras na dieta com menor prevalência de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral e doença vascular periférica. Os fatores de risco relacionados as doenças cardiovasculares, como hipertensão, diabetes, obesidade e dislipidemia, sãotambémmenosfrequentesemindivíduos com maior consumo de fibras.

A adoção de escolhas alimentares saudáveis representa um importante fator protetor, sobretudo no caso de frutas e hortaliças, que contêm compostos bioativos, os quais podem inibir a peroxidação de lipídios e, assim, prevenir o aparecimento de aterosclerose e infarto do miocárdio, entre outras doenças.

As evidências científicas do efeito dos compostos bioativos na proteção contra doenças cardiovasculares destaca a atuação dos flavonóides, das catequinas, do resveratrol e dos compostos organossulfurados, como o alho e a cebola.

Os peptídeos bioativos são muito promissores para serem usados como componente de alimentos funcionais desenvolvidos especialmente para melhorar a saúde cardiovascular. Pesquisas recentes mostram que os peptídeos bioativos do soro podem estar envolvidos em funções relacionadas à saúde cardiovascular, como atividade inibidora de ECA; atividade similar às de substâncias opióides; atividade antitrombótica; e atividade associada à redução do nível de colesterol.

Há alguns anos já se destacava que há várias maneiras de reduzir os riscos das doenças cardiovasculares. Os primeiros ingredientes para saúde cardiovascular utilizados em alimentos e bebidas foram a vitamina E, o magnésio e a niacina (vitamina B3). Já os mais novos incluem ômega 3, betaglucana, resveratrol e fitosteróis. O ingrediente mais antigo é a niacina e o mais famoso são os fitosteróis.

Em parte considerável dos produtos lançados no Brasil com posicionamento para saúde cardiovascularnosúltimosanos, os ingredientes com efeito benéfico estão naturalmente presentes na matéria-prima, como por exemplo, arroz integral, arroz preto, feijão, lentilha, castanhas, aveia, quinoa, granola, cereais matinais, misturasdecereais,cevada,açaí,mel,sucos(uva,laranja, etc.), chás, óleos, azeite de oliva, sardinha etc. Foram lançados também vários produtos à base de soja, como snacks, almôndegas, farinha, paçoca e uma grande variedade de bebidas.

Em outros produtos lançados, os ingredientes com benefícios à saúde cardiovascular foram adicionados, como por exemplo, margarinas e iogurtes desnatados com fitosteróis e ômega 3, biscoitos com cacau e vitaminas, shakes, snacks, leite UHT com ômega 3, pães de forma, etc.

Os ingredientes alimentícios com alegações à saúde cardiovascular aprovados pela ANVISA são ômega 3, betaglucana, psillium ou psyllium, quitosana, fitoesteróis e proteínas de soja.

Segundo dados de mercado, os três segmentos com maior número de produtos lançados para saúde cardiovascular são bebidas não alcoólicas, laticínios, panificação, confeitos e cereais.

Embora o mercado de alimentos e bebidas para saúde cardiovascular esteja consolidado e seja bastante expressivo, novos ingredientes poderão ser introduzidas nesse segmento com o avanço da ciência.




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